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História - hoje
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LOUPHA - o início

devia ser contada pelo Mattoso. Está sendo contada pelo Vermelho até 2ª edição. É importante notar que todos os envolvidos nesta história sabiam falar ou cantar o inglês perfeitamente (uma elite na época).

PREÂMBULO (Mackenzie, 1965)

Final de 65. Estudavam na mesma classe do 2º científico do Colégio Mackenzie o Vermelho, o Victor Malzone e o Hermínio Reis. Os dois últimos tinham estudado no Colégio Thereziano junto com o Mattoso (que agora estava no 2º ano do Técnico em Contabilidade, também no Mackenzie). O Vermelho era também amigo do Hermínio porque os dois passavam férias em Ilhabela (o Hermínio tinha a mais linda casa da ilha).

O Vermelho (Ficarelli, na escola) tocava desde 1960, e desde 1963 no Top Sounds (o conjunto da Augusta e do Dante Alighieri) e já tinha LP gravado. Os outros 3 queriam montar um conjunto.

Victor, Hermínio e Mattoso (e o Arthur Frontini que descontinuou) não sabiam tocar nenhum instrumento (nem sabiam qual tocar). Decidiram então conhecer o ambiente musical assistindo aos ensaios do Top Sounds, na casa do Vermelho.

O INÍCIO (Casa do Victor, 1966)

Março de 1966. Um dia houve um quebra-pau no Top Sounds (primeira vez). Na manhã seguinte o Vermelho juntou o Victor e Hermínio e perguntou se eles queriam formar um novo conjunto (ele ensinaria ou ajudaria). Deu certo na hora pois, segundo o Mattoso, eles namoravam esta situação há tempo. Decidiram que o Hermínio tocaria a bateria, o Victor o baixo e o Mattoso a guitarra-base (já sabia um pouco).

O nome LOUPHA foi escolhido imediatamente. Era um grito bobo (sopinha de letras) que todos nós havíamos criado em Ilhabela (como bloco de carnaval). Era um som que agradava e muito fácil de criar torcida (LOUPHA!! LOUPHA!! LOUPHA!! LOUPHA!!)

O Vermelho tinha um ótimo equipamento mas os outros nada tinham. Foi assim que o pai do Victor (o "seu" Vittorio - banqueiro) ajustou as coisas para que as fábricas cedessem-nos o resto do equipamento. O Alfredo da Phelpa e a Gianinni ajudaram muito. Era bem razoável (o Mattoso toca até hoje num protótipo Gianinni Supersonic - cópia da Jazzmaster Fender - toda reformada pelo Jair da Vintage).

Naquela época nascia a primeira revista de rock beat, a italiana Giovane (única) e vários conjuntos ingleses novos (Kinks, Yardbirds, Sorrows - enfim, os pesados) além dos já famosos Hollies, Animals, Beach Boys, Dave Clark 5 e Paul Revère. Os ensaios eram na casa do Victor, na rua Veiga Filho, e as paredes do estudio eram forradas com os mega-posters desses grandes conjuntos.

O Loupha nasceu com o Vermelho cantando e solando a guitarra. Os outros "tentavam" acompanhá-lo.

Bastaram 3 meses de intenso ensaio, dia e noite, para o Loupha sair na rua tocando em ótimas festas e quermesses de colégios famosos (Sacre-Coeur, Assumpção). Tudo muito imediato. Em Junho o Loupha tinha convites para tocar nos clubes Pinheiros, Paulistano, tinha 2 empresários (Carlão Benaim e Fernando Reis), roadies (Ronaldo, Jopa e Julinho) e chofer-segurança (Jonas).

Leiam um fato paralelo e muito importante - O PESSOAL DO JAZZ

A cada show, os primeiros acordes de "You Really Got Me" dos Kinks já diziam para "o que eles vieram". Frente à música leve dos Beatles (default da época), a música do Loupha era uma bomba, e tinha aqueles solos complicadíssimos (o Vermelho usava 3 amps grandes - 1 normal, 1 distorcido e 1 para reverb). O inglês rolava solto e todos cantavam.

Junho terminou com o Loupha em pleno sucesso. Muito cedo. Vieram as férias e o conjunto "mudou-se" para Ilhabela para ensaiar (e tocar e se divertir) durante todo Julho. Dia e noite você podia ouvir o Loupha. O som atravessava o silêncio da época (ilha deserta) e chegava até São Sebastião. O Loupha conseguiu unir todos os jovens (e pais) de Ilhabela em uma só turma (a do Loupha).

A "Turma do Loupha" ficou tão grande que vários clientes contratavam festas "sem a turma do Loupha". Os shows mudaram-se para o Auditório Mackenzie (famoso na época) e do Rotary (no Colégio Rio Branco). Todos grandes.

O FESTIVAL DA RECORD

Foi em Agosto que a TV Record (dos festivais, lider absoluta) anunciou o lançamento do 1º Festival Nacional da Jovem Guarda. O prêmio era de Cr$10 Milhões (US$4.000 - hoje uns US$25.000). O Loupha se inscreveu no primeiro dia. Todos os outros conjuntos também famosos negaram-se a se inscrever (Fenders, Beatniks, Six - depois Mutantes - etc.) "porque era comercial e mixo".

O Loupha inaugurou a primeira eliminatória. Como coordenador do juri estava o Bogô dos Beatniks (que era amigo do Vermelho). A inauguração foi com o velho "You Really Got Me" e toda a Record (da Moreira Guimarães, hoje Ruben Berta) saiu para ouvir "aquele tremendo barulho". No final da música asseguraram que estaríamos na final e pediram se o Loupha podia acompanhar os cantores que viriam fazer o teste. Aceitamos na hora.

Com o sucesso na 1ª eliminatória, o Loupha percebeu que era necessário um grande esforço para garantir a premiação. Chegou então a hora de reler todos os exemplares da Giovane para "formar uma imagem". A imagem não saiu de lá mas chegamos à conclusão que nossas roupas seriam feitas com os tecidos mais gritantes que existiam, as Lonas de Cadeirinha de Praia das Lojas Moreno, listradas ou xadrezas (eram muitas). O Spinelli e o Adriano nos fizeram sapatos com franjas caídas em cor vinho. O Victor comprou um Fender Jazz Bass e o Vermelho uma Fender Mustang azul-calcinha (raro e caro na época). A música escolhida para a competição era a última dos Hollies, "I Can't Let Go", um lindo grito de alegria, com muito vocal e lindo solo de guitarra.

Neste período, nascia o "Jornal da Tarde", do Estadão, com uma linha light e cultural. Usou o Loupha como a imagem do moderno em todos os sentidos. O JT levou "a turma do Loupha" a usar faixas e bandeiras ... enfim, a bandeira do novo.

O sucesso nacional do Festival trouxe 5.000 (cinco mil) inscritos dos quais o Loupha deve ter acompanhado mais de 1.000. Muitos cantores nem sabiam o tom e também concorriam com músicas desconhecidas. Sentíamos-nos um Caçulinha do Rock (este nos apoiava também). Entre os 5.000 já estavam os outros bons e famosos conjuntos, que não se classificaram. Nossos concorrentes eram "de fora" (BH, P. Alegre). Somente um outro de São Paulo foi qualificado (os Beatcousins - eram primos mesmo).

O Festival na sua 2ª etapa corria solto na TV e uniu-se ao Salão da Criança com o apoio de toda a indústria. Todo dia havia um show, até a final em Novembro. Na final deu o que deu, Loupha na cabeça e um tremendo prêmio.

O sucesso do Loupha causou seu banimento pelos grandes artistas. O público exigia o Loupha (LOUPHA!! LOUPHA!!) e isto causava-lhes problemas. Assim o Roberto Carlos entregou o Premio sem olhar para o conjunto e vários outros agiram semelhante. Eles estavam com a razão, o Loupha era o anti-yeyeye.

O APOGEU (Novo Equipamento, 1967)

Janeiro 1967. O Loupha (menos o Vermelho - em 2ª época na escola) foi a NY. Ver tudo, comprar tudo. Esse era o lema. Conheceram o Blues Project (Al Kooper), compraram um baixo do Lovin' Spooful (Gibson semi-acústico, péssimo), o equipamento Standel de voz (automático - que a Elis quis comprar) igual do Young Rascals (que assistiram), os maiores amps da Fender, bateria Grestch, os primeiros (em teste) microfones Shure, 3 guitarras Baldwin/Burns (o Rolls-Royce - o Mattoso tem até hoje) e uma Binson Echorec III (o melhor eco que jamais existiu). Ainda vieram uma sítara indiana e um órgão Farfisa Compact-Duo (uma jóia). Assistiram muitos shows (Sam the Sham etc.) e aprenderam muito (o Hermínio tocava mal, mas seu pedal era perfeito e único - aprendeu com o Dino Danelli dos Young Rascals).

Na volta (era férias de verão) o Loupha voltou a Ilhabela com o mais moderno equipamento no Brasil "para tirar o som". O Vermelho começou a tocar o órgão ao mesmo tempo que a guitarra (até hoje), o som de voz era muito especial e ... bem, tocar já era uma baba. O Victor já era considerado ótimo baixista (depois Codigo 90 e Kompha) e o Mattoso, como sempre, fazia o par perfeito com o Vermelho. O Hermínio era único, uma incógnita que todos (o público) adoravam. Seu ritmo era diferente (o segredo é o pedal!).

A FAMA FATALE

O Loupha era muito divertido. Criavam-se novas situações sempre. Os palcos eram inusitados, as roupas e ... principalmente a música, entravam sempre numa sequencia desordenada. Nada era como o público esperava, tudo era sempre um choque (até hoje existe este "ranço"). Deste modo, os outros conjuntos temiam tocar ao lado do Loupha, os clientes quase que "apostavam" nos shows e os rapazes eram "alguem para se copiar". O Loupha era limpo, simpático e bagunceiro mas, era a verdadeira imagem do rock.

Por isso, escolhido como padrão pelos conhecedores, o Loupha pôde ajudar Caetano e Gil, Paulinho da Viola e outros no começo da carreira. O Solano Ribeiro e o Carlos Manga da TV Record apoiavam muito os "meninos" do Loupha. O Loupha servia para mostrar "o que é Rock", já que as rádios seguiam vendendo o velho e chato ye-ye-ye.

O Que "cansou" o Loupha foi o que cansou os famosos conjuntos ingleses, ou seja: a boa música, ela também se acaba. Quando o Mattoso cansou, as músicas já eram repetição.

INTERMEZZO (O Ray, 1968)

O anúncio da saída do Mattoso trouxe o cantor Raymond Mattar (Ray dos Sounds Five - depois Kompha) "para dentro". O Ray tinha uma linda voz e foi colega do Vermelho na Faculdade de Economia (Mackenzie). O Vermelho tocava "tudo", fazia 2ª voz e ainda o Luis Carlos Maluly, seu amigo guitarrista, adicionava 500 solos aos seus. O Loupha tocou mais um ano deste modo, mas todos eram unânimes em dizer que a magia se acabara. Além disso, era época de vestibular e todos queriam entrar na faculdade.

FINALE - 1968

É importante notar que os 3 anos de vida do Loupha foi "muito". Manteve uma média de 2 shows por semana e, para quem muda de namorada todo dia, manter um casamento (de 4) durante este tempo ...

O Top Sounds, após a saida do Vermelho em 66, acabou-se. Mas as amizades (e namoradas) eram as mesmas. Em 68, os "verdadeiros" se juntaram ao Marinho Murano (maestro, também do Dante, vizinho do Vermelho na Aclimação) e fizeram o Codigo 90, um conjunto com música de Elite, sinfônica (rock é claro). E assim, para um show do Dante, convidaram o Vermelho para tocar junto. Reviveu-se a velha magia do Top Sounds (o Pedrinho Autran e Vermelho era uma dupla vocal perfeita) e causou a reunião em 1969 que levou o Codigo 90 ao sucesso.

O CODIGO 90 - final de 1968

O Codigo 90 era uma orquestra e foi o grande fermento para o Círculo Militar tornar-se o que foi na época. Iniciou com o Mario Meloso no baixo, depois o Victor (do Loupha) também entrou no Codigo 90. A grande época do Codigo 90 foi a das viagens, tocando em transatlânticos (todas férias, várias viagens).

Com a saída do Vermelho ("Eu quero Rock'n'Roll") do Codigo 90, entrou o Tuca (hoje seu cunhado - um grande guitarrista) no lugar. Esta troca acabou gerando o Kompha. O nome KOMPHA era a mistura de CODIGO (Marinho, Pedrinho e Tuca) com LOUPHA (Victor e Ray). No Kompha também entraram os músicos do conjunto "Vermelho": Rafael (baixo) e Niccoli (bateria)

Durante a larga entre-safra (entre o Codigo e o Kompha) o Vermelho seguiu linha solo com suas composições. Foi neste momento que o nome "Vermelho" floresceu. Na Record, com o apoio do Solano Ribeiro (o homem dos festivais) e do (Toninho) Antonio Peticov (o homem dos grandes shows psicodélicos na Folha de S. Paulo - inventor dos Mutantes).

ENTRE-LOUPHAS

O Hermínio largou a bateria quando acabou o Loupha.

O Victor parou de tocar quando acabou o Kompha.

O Mattoso parou de tocar com o fim do Loupha mas não abriu mão de suas guitarras. Em 2001 reuniu-se ao Vermelho para fazer o Loupha atual.

O Vermelho ainda voltou (como conjunteiro) em 72 tocando no Watt 69, mas em 74 parou e foi trabalhar como Produtor de Gravações (a convite do Cesare Benvenuti) na Copacabana Discos, e só retornou aos palcos em 80 com o B-12 (Ray Mattar, Vermelho, Milton Levy, Dudu Fecarotta e Marcos Rosset). O B-12 tocava composições próprias e foi o 1º conjunto de rock dos anos '80 (e por ser pioneiro, só apanhou da indústria). (ver também a história do Lips)

NOTA: prometo (algum dia) a história do Watt69, B-12 e outros desconhecidos. Aguardem.

FIM

O PESSOAL DO JAZZ

Em 1963, o Vermelho havia estudado harmonia moderna (as cifras usadas hoje) com o Wilson Curia (um gênio do jazz, na época), numa classe de 10 que depois se tornaram famosos maestros. Amigos na época do nascimento do Loupha, todos (incl. o Vermelho) davam aulas no Conservatório Musical Meirelles (o maior de S. Paulo). Incluía o Maestro Nelson Ayres, Paulo Freire do Órgão, Chumbinho e Rubinho da bateria e outros.

A palavra LOUPHA, mesmo escrita de maneira diferente, significa "caralho" em polonês. O Consulado Polonês soube do conjunto, pelos jornais, e foi exigir satisfações. Acabou ganhando um show grátis "a marcar". Marcaram para um dia, em que um Festival de Jazz aconteceria nos seus salões, com os monstros da época.

Na chegada o Loupha foi tratado como "os meninos do ye-ye-ye" (muito pejorativo na época). Só tocou "quando acabou o festival". Isso, bem ... depois!

Primeira música: "You Really Got Me"! Os jazzeiros nunca tinham ouvido um som daqueles. As guitarras, os solos tinham uma fúria que fazia dos seus (deles) "improvisos" uma coisa muito chata. Depois, os blues dos Yardbirds eram de comer a guitarra. Quem poderia ficar parado com aquela música?

Final. Todos saíram dançando (foi longe) e ovacionaram o Loupha, contando a todos (os clubes) que conheceram uma molecada que ... Foi o Grande Começo!

O TOP SOUNDS

... história completa

O Top Sounds era composto pelo Pedrinho Autran (cantor), Vermelho (guitarra), Aldo Crotti (baixo), Mario Meloso (base) e Totó Labate (bateria). Era considerado "o conjunto da Augusta" pois fazia shows grátis no saguão da Galeria Ouro Fino (onde Miguel Vaccaro Neto - o famoso radialista da época - tinha loja de discos). Foi o primeiro conjunto em São Paulo a abandonar o "só instrumental" (Shadows e Ventures) para cantar (músicas do Trini Lopez, Dion etc). Por esta razão, foi também o conjunto que lançou os Beatles, Rolling Stones, Searchers e outros em São Paulo. Antes, na fundação, instrumental, tocaram também o Pedro Ulhoa (baixo) e o Silvio Camba (guitarra). Com eles foi gravado o LP Top Sounds em 1963 - Albatroz 1964. Ganhava-se muito pouco no início (os clientes pensavam que não era para pagar). No seu final, com a morte do Totó (desastre), o Top Sounds contou também com o Serginho (irmão do Meloso, na bateria) e o Louis Lachèze (cantor junto com o Pedrinho).

 
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